O "tal" dia...



O dia da Mulher! Ele vai chegando todos os anos no mesmo dia, e em apenas um que obviamente não bastará para que percebam todos, nós incluídas, que não é disso que se trata, que não estamos a celebrar um grupo corajoso que pagou caro o arrojo, estamos a banalizá-lo e a usá-lo como desculpa, sorteando uns quantos brindes e estando em lugares diferentes, para muitas apenas UM DIA POR ANO.


O dia da Mulher meus amigos não é "isto", não pode ser e recuso-me a celebrar o que me faz verdadeiramente pensar no que ainda não somos, no que ainda não temos e no que ainda não nos concedem, sim, porque se trata disso mesmo, temos que continuar à espera que generosamente nos permitam ser o que afinal até já deveríamos ser. Para mim é sempre algo triste ver que algumas mulheres preparam este dia apenas porque lhes é concedida uma ordem de soltura, agarrado-se à ilusão de que são o que sempre desejaram e recusam as grilhetas que lhes foram colocadas assim que se atreveram a responder "SIM", no suposto primeiro dia do resto das suas vidas.

Tão pouco que ainda se caminhou. Tão pouco que se fez por mudar o que já todos sabemos estar errado. Tão pouco que se olha para o que deve ser visto, diariamente. Não vos vou passar factos, nem números, apenas o desejo maior de que olhem um pouco mais por cada uma para que beneficiemos, as restantes, no colectivo, conseguindo o que já deveria ter chegado. Não vamos precisar de morrer nem de ser mortas. Não teremos que queimar nenhuma roupa interior para que nos considerem, mas teremos, rapidamente, que mudar o nosso próprio comportamento para que ensinemos aos outros como queremos e devemos ser tratadas. Devemos isso às mulheres que não têm voz, nem rosto, porque até estão cobertos. Devemos isso às nossas filhas e filhos para que se respeitem e amem da forma certa, porque quando recebemos alguém no coração, só poderemos desejar que tenha TUDO o que merecemos nós mesmos.

Hoje é o dia em que me sinto particularmente envergonhada por não ser mais, não ter mais e não conseguir que mais mulheres tenham o seu lugar na sociedade. Hoje é o dia em que gostaria de não ser celebrada, porque existe muito pouco ainda por celebrar. Hoje é o dia em que receio, ainda mais, que andemos para trás e passemos a aceitar o inaceitável.

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